sexta-feira, 8 de maio de 2009


Eu os conheci no outono de 2009. Seus nomes, logo de cara, me chamaram a atenção. Na lápide do caixão continha a inscrição: José Nunes Ferraz 1909 – 1979 e Esmerita Salvadora Ferraz 1915 – 2005.
Era fim de tarde. Hora em que qualquer corpo busca repouso, e foi no cemitério - onde se encontra a maior quantidade de corpos repousando juntos - que busquei abrigo. Demorei decidir entre uma rua... e outra..., e outra... até escolher a terceira entre tantas, para que as possibilidades não se findassem e para que o caminho não se perdesse. Estacionei o carro, respirei fundo, olhei ao redor, como se avaliando todos os possíveis riscos. Era preciso dormir. Era preciso descansar. Era preciso repousar. Não queria o repouso eterno, como todos os meus milhões de companheiros pareciam me propor. Precisava apenas de alguns minutos. Alguns minutos daqueles que nada têm a ver com o tempo físico, com o relógio, com as preocupações. Carecia daqueles minutos que dão sono. Daqueles que aquecem, com cheirinho de lavanda floral. Desci do carro e fui, cautelosa, atrás de algo para acolher minhas ânsias.
Caminhei em busca de um banquinho pra sentar. Logo vi, perto de um Ipê com poucas flores, um tanto entristecido pelo fim da estação, uma carreira de túmulos envelhecidos, com cruzes empretecidas e plantinhas murchas, mas entre eles se destacava um, que era impecável. Todo coberto com pedras de granito Cinza Corumbá, circulado com plantinhas de folhas amarelas com pontinhos pretos. Era um cenário lindo, perfeito, enriquecido pela musicalidade dos uivos das folhas e pelo cheiro da terra roxa e fofa que sustentava meus pés. E foi sob esse cenário, extravagante em detalhes, que pude conhecer José e Esmerita....
Sentada num banquinho de granito, em frente a uma sepultura me perguntei quantas coisas poderiam me ter dito José e Esmerita... Quantas recordações, quantas histórias... Histórias de fazer, de refazer e de fazer de novo, até que tudo acabe! Quantas coisas poderia ter aprendido com eles? Quantas lições... Quantas palavras, quantas canções? Quantos pregos pregados e arrancados? Quantas pedras? Quantos caminhos? José e Esmerita já não poderiam me responder tudo o que desejava saber como a sensação do primeiro beijo e a alegria da primeira gestação. Mas, eles me falaram sobre a vida.... A vida que precisa ser vivida antes que a ausência dela a transforme na poeira erguida pelo sopro que já soprou e que jamais regressa para mais um último suspiro.