segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

ia todos os dias pro barracão a pé.
era lá que estudava e chegou a fazer piadas
com a garota nova da sala, a gina.
se arrumava e sabia ficar bonita e ser charmosa como ela mesma dizia.
mas ainda tão nova foi trabalhar na casa de gente rica
não queria, mas a mãe achou a chance pra boa educação da menina
ela foi, chorando, olhando pra trás quase virando estátua de sal
gente rica, fina, branca, bonita, tudo sem vida
povo mal educado num sabe dá de comer a uma menina
e quase vira mesmo estátua de
sal branco
saia branca
traje dominical de escola bíblica
e ia lá,
tratada como a empregada da família que era
ah mas num gostava
reclamava e apanhava quando chegava em casa

toda vez que ele mandava ela usar aquela outra saia,
já sabia
e patroa fingia que não via
e quase todo dia
menina sofria
em sonho fugia

pediu ao padre uma batina
pra mudar a rotina
e num sabia que mãe rainha
em algum lugar sabia
que era hora de voltar

a menorzinha nasceu
-e eles me levaram e eu
não quis mais voltar
nem apanhei mais
porque eu embirrei mesmo q ia ficar
e fiquei!

tinha vizinha
regina
q me dava animo de vida
comprava doce e fazia alquimia
com comida
e ela me levou pra conhecer livraria
fui morar com amiga da regina
que me ensinou um tanto de vida

voltei já moça, namoradeira
e sabia que tinha que arrumar alguém rico
pra casar.

advogado, morando em sobrado?

num dá pra ser por amor, sabe?
eu amava mesmo era um traficante safado da rua
que levou umas facada nas tripa

casou!
e um objeto de luxo virou
presa em casa, era maquina de orgia
fora de casa, só com ele
e apanhava se olhava pro lado

depois de até dedos dos pés quebrados
se juntou com uma amiga de agora
e fugiu.

tinha buraco no muro q dividia os dois lotes
o muro dividia e o buraco unia
voltou e a mão não quis mais
dá pra ninguém
passou pelo buraco e foi procurar vizinha,
aquela regina
e só agora entendia
o poder de cura do amor de amiga

foi ficando por aqui
vendo gente morrer na rua
pelos bandido, pela policia
vivendo
agua em carro pipa
asfalto passando na rua depois de tempos
a primeira escola de tijolo
as linha de ônibus
o postim de saúde

a mãe morre e ela pensava que era de desgosto
foi quando seu zé pilintra apareceu pela primeira vez
de chapéu vermelho e tudo
a padilha tava nela e num dava pra negar
-bora encaminhar os eguns pro lugar certo
e tentar viver em paz?
essa gente sabe que na hora do sufoco mesmo
num vai ter medico, nem advogado, nem estado
só vai vir os preto véi, as mãe guia, as puta e cigana poderosa
pra poder
ajudar.

vamo acender uma vela pro povo da rua?
e assim esse povo se une a varias nações
de agora ancestres e sobrevive
ao completo descaso do estado
luta com a espada de são jorge, com a lança de ogum
alfazema e alecrim,
abre caminho é que abre caminho mesmo
é remédio e patchuli

pru corpo pra alma e fortaleza