ia todos os dias pro
barracão a pé.
era lá que estudava e
chegou a fazer piadas
com a garota nova da sala,
a gina.
se arrumava e sabia ficar
bonita e ser charmosa como ela mesma dizia.
mas ainda tão nova foi
trabalhar na casa de gente rica
não queria, mas a mãe
achou a chance pra boa educação da menina
ela foi, chorando, olhando
pra trás quase virando estátua de sal
gente rica, fina, branca,
bonita, tudo sem vida
povo mal educado num sabe
dá de comer a uma menina
e quase vira mesmo estátua
de
sal branco
saia branca
traje dominical de escola
bíblica
e ia lá,
tratada como a empregada
da família que era
ah mas num gostava
reclamava e apanhava
quando chegava em casa
toda vez que ele mandava
ela usar aquela outra saia,
já sabia
e patroa fingia que não
via
e quase todo dia
menina sofria
em sonho fugia
pediu ao padre uma batina
pra mudar a rotina
e num sabia que mãe rainha
em algum lugar sabia
que era hora de voltar
a menorzinha nasceu
-e eles me levaram e eu
não quis mais voltar
nem apanhei mais
porque eu embirrei mesmo q
ia ficar
e fiquei!
tinha vizinha
regina
q me dava animo de vida
comprava doce e fazia
alquimia
com comida
e ela me levou pra
conhecer livraria
fui morar com amiga da
regina
que me ensinou um tanto de
vida
voltei já moça,
namoradeira
e sabia que tinha que
arrumar alguém rico
pra casar.
advogado, morando em
sobrado?
num dá pra ser por amor,
sabe?
eu amava mesmo era um
traficante safado da rua
que levou umas facada nas
tripa
casou!
e um objeto de luxo virou
presa em casa, era maquina
de orgia
fora de casa, só com ele
e apanhava se olhava pro
lado
depois de até dedos dos
pés quebrados
se juntou com uma amiga de
agora
e fugiu.
tinha buraco no muro q
dividia os dois lotes
o muro dividia e o buraco
unia
voltou e a mão não quis
mais
dá pra ninguém
passou pelo buraco e foi
procurar vizinha,
aquela regina
e só agora entendia
o poder de cura do amor de
amiga
foi ficando por aqui
vendo gente morrer na rua
pelos bandido, pela
policia
vivendo
agua em carro pipa
asfalto passando na rua
depois de tempos
a primeira escola de
tijolo
as linha de ônibus
o postim de saúde
a mãe morre e ela pensava
que era de desgosto
foi quando seu zé pilintra
apareceu pela primeira vez
de chapéu vermelho e tudo
a padilha tava nela e num
dava pra negar
-bora encaminhar os eguns
pro lugar certo
e tentar viver em paz?
essa gente sabe que na
hora do sufoco mesmo
num vai ter medico, nem
advogado, nem estado
só vai vir os preto véi,
as mãe guia, as puta e cigana poderosa
pra poder
ajudar.
vamo acender uma vela pro
povo da rua?
e assim esse povo se une a
varias nações
de agora ancestres e sobrevive
ao completo descaso do
estado
luta com a espada de são jorge,
com a lança de ogum
alfazema e alecrim,
abre caminho é que abre
caminho mesmo
é remédio e patchuli
pru corpo pra alma e
fortaleza