um vento saudoso bate na minha cara
aqui no taguaparque
lugar que desde antes de existir assim
já acolhia minhas lágrimas
quando eu era criança
parecia o mar
quem vinha subindo as qnd
sabia e dizia: de longe parece o mar
esse mesmo vento
me trouxe a força da coragem
de não permitir mais que
branquitude nenhuma
me impeça de adorar orixá!
"no santo dos santos a fumaça me esconde
só meus olhos me vêm
debaixo das minhas asas é o meu abrigo
meu lugar secreto, só minha graça me basta
e minha presença é o meu prazer!"
eu dividi o meu espaço sagrado com muitas pessoas
muitos rolês
muita vida sendo gerada
e eu não fazia a menor ideia
do quanto a minha música falava: linguagem sagrada
hoje eu senti
eu vivi
eu entendi
e fortaleci isso em mim:
ninguém mais invade
sem coragem
meu espaço sagrado
e se tentar eu vou ao menos tentar defendê-lo
vou me defender de gente covarde
e eu nem sei se vai ser sempre possível
tamo aí com todas as políticas
pra gente não tocar tão alto, não falar!
pra quê investimento?
deve ser o medo que o tom da minha voz aumente
mas eu insisto em tentar proteger
o mais sagrado em mim!
e quem não puder partilhá-lo
sem me apontar o dedo na cara
pra me dizer como fazer, como viver,
vaza!
depois dessa luz toda, do sol ardente,
depois do seu choque
tem escuridão e acredite: é lá que tem a glória!