acho que esse meu desejo todo

tem a ver com medo

medo de ficar só

eu nunca me sinto à vontade mesmo

em lugar nenhum senão em mim

nem na sua casa mais

nem na sua graça

enxurrada que não para

eu gosto de ir um pouquinho mais fundo

você sabe!

mas sei também quando é hora de amar

quando é hora de parar

quando é hora de passar

eu também sou do tempo

onde prazer e dor

se cruzam na mesma fronteira

no mesmo lugar 

e a vida não é mais só cócegas 

é hora de abraçar a calma

e pedir pra sossegar homem bolacha

o pacote inteiro que nunca mata a minha fome

um instinto me consome

eu tenho uma fome de prazer

me sinto a boca do mundo

ansia por mastigar o que vier pela frente

seus dentes sua boca seu queixo

minha esperança de poder decorar as linhas do seu pescoço

do seu ombro do seu rosto

com a ponta do meu dedo

e essa vontade

me desenha por dentro

vontade infinita do meu ser

e no fim das contas

é uma grande mentira

o medo da solidão

solidez pesando o ar

virando sólido

caindo em gota

chove!