sábado, 2 de fevereiro de 2008

Antes do Princípio


Coisa que raramente faço é caminhar a pés. Encaro até a bike ou uma motocicleta, se precisar, mas, por favor, não me peçam para andar mais que 100 metros. Porém, como tudo na vida não é como a gente quer, houve um desses raríssimos dias em que eu caminhei. Caminhei por entre os largos quarteirões, quadras e superquadras de Brasília, tentando elevar a minha mente a alguma coisa, qualquer coisa que me fizesse planejar algo de extraordinário para aquele momento confuso. Acostumada com tanta superficialidade, só conseguia ver cores, sapatos, tecidos, vozes, buzinas, frases de out door, até ver uma manchete que dizia: “Brasília, o melhor lugar para se viver”. Pensei, imediatamente, por que nem sempre eu conseguia ser feliz no melhor lugar para se viver e ora ou outra, eu achava que para ser feliz era preciso sair dali.
Então cheguei a conclusão de que as pessoas, não são felizes, porque não sabem que são felizes. Falta-lhes essa ciência: a consciência de que são felizes e pronto! Eu precisava adquirir o conhecimento de que eu era feliz... Naquele momento... Sem condições...
E fui refletindo olhando de um lado e de outro, atravessando as ruas, tentando convencer-me de que era feliz. E, para isso, tentei me lembrar de pessoas infelizes e pensar no oposto – nada melhor do que entender o oposto de alguma coisa para depois se chegar a alguma conclusão. Até então, eu costumava sentir pena das pessoas que eu nem conhecia, principalmente das mulheres, que eram, ao meu ver, tão subjugadas e reprimidas pelo poder e autoridade masculinos. Sentia pena em vê-las pobres, sujas, quase irracionais e também em vê-las belas, sensuais, tendo como maior valor as medidas de sua cintura e seus seios enormes. Queria chorar, talvez por nunca ter tido cintura fina nem seios enormes, mas principalmente por ser como elas e permitir que a essência de minha existência fosse baseada em tais determinações - mesmo sem as medidas exigidas, eu entrava no jogo - que opostamente ao que imaginávamos, jamais trouxera a mim nem a nenhuma de todas as outras, alegria ou contentamento algum. Tive pena de mim e de todas as outras e descobri que eu era infeliz, mesmo estando no melhor lugar do mundo para se viver. Olhei para a rua cheia de pessoas e compreendi que a felicidade para nós, mulheres, era vendida nas casas de compras, no supermercado, no salão de beleza, ou ganhada no Baú da Felicidade e SPA’s.
O que eu sempre fiz de melhor na minha vida, foi sorrir e gargalhar, quase o tempo todo por motivos invertidos e os meus sonhos eram depositados nas pilhas de sapatos e bolsas, que permaneciam intactos dentro do armário. Não! Não era possível que tudo era tão fútil quanto parecia ser. E no final tudo termina em uma noite bem dormida! Ah! Como valorizo o sono! Adoro chegar em casa fora de hora e dormir. Dormir, talvez, para esquecer da minha futilidade e não ter que lembrar das responsabilidades. Dormir para não ser ouvida, para não ter que falar. Dormir para me esconder do resto do mundo e não ter que me olhar de frente e correr o risco de não me aprovar!

Dormir. Apenas dormir preguiçosamente e deixar que o sono me distancie dos meus ideais, dos meus projetos de vida, das minhas metas (se eu as tivesse). Dormir para sonhar, pois penso que para mim, o sonho só acontece na ausência da atividade consciente. Ou então, dormir simplesmente para não ter que pensar mais em nada, pois, acordada, busco, mas não encontro respostas. Dormindo as questões fogem da minha mente e não mais me afligem.
Descubro, porém, que as respostas só começarão a surgir quando eu descobrir o que realmente ocupa minha mente.

Para quê trabalhamos e para quem estamos derramando as nossas gotas de suor? Estamos valorizando o uso ou a troca? O que nos faz acordar cedo e dormir tão tarde? Como sonhar se o que nos ensinam hoje são os conceitos da pro-atividade? Tenho medo de enlouquecer para tentar entender as questões do mundo e do homem. Não me preocupo com os miseráveis indianos, nem com a emergente China, nem com a recessão dos EUA, tampouco com os desejos da rainha da Inglaterra. Minhas preocupações partem de interesses egoístas, que correm atrás apenas de uma resposta original, que agrade, pelo menos, mais de 50% da população mundial. Uma resposta original seria possível? Ela pode estar escondida nas coisas simples da vida. Ela pode ser encontrada na dinâmica dos governos ou nas questões político-sociais. Eu não estou inclinada para nenhum lugar. Vejo-me, neste momento perdida, no meio da multidão. É como se, durante muito tempo, estivesse andando com aqueles que estão hipnotizados e que jamais questionam seus caminhos, então de repente, eu saísse da hipnose e tentasse voltar, mas não dá. Existe muita gente indo para mesma direção e apenas alguns poucos vão à direção oposta. Posso não ter força. Posso não conseguir. E tantas dúvidas me estagnam e me impedem de continuar meu caminho.