terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Colchas de Retalho


Quando escrevo meus textos, escrevo-os para mim. Não intenciono ser lida e tampouco me exercito para que as palavras provoquem efeitos em mais alguém, senão em mim mesma. Elas (as palavras) surgem soltas e livres, distantes de elaborações ou previsões. Apenas, decorro-as sobre o papel para que no fim de tudo, elas provoquem em mim o pavor, a paixão, a dependência. Afinal, são elas as únicas capazes de extrair minha essência por completo.
Nesse maravilhoso e irresistível mundo das palavras, a menor delas tem a mesma importância que a maior. Cada uma assume um papel fundamental em suas construções. Se, por qualquer motivo, uma resolve se colocar em algum outro lugar, toda a construção se modifica...
Sinto-me dependente delas, não apenas por elas extraírem a minha essência. Se permaneço dependente é porque abro mão de tecê-las e de ser lida para aprecia-las nas entrelinhas dos dedos e do pensamento de outros autores. Tecelões que cozem com arte belas colchas de retalhos, cheia de pontos, conjunções, adjetivos e interrogações, que, por sua habilidade e técnica, supre a necessidade que tenho em cozer minhas próprias colchas. Encontro, na obra de arte desses tecelões, um colorido ameno intrisecado em cada ponto e costura que poderia passar despercebido aos olhos desatentos.
Então já não tenho necessidade em procurar tecidos, em comprar linhas e cozer, para que no frio possa me aquecer. Encontro, em outras palavras que não sejam as minhas, o calor que me aquece de noite.