quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Meus Grilos

Conheci uma senhora boba e assustada, com a pele esverdeada e asinhas miúdas que emitem um somzinho nostálgico e até enjoativo. Essa senhorinha quase nunca diz nada, mas o seu zumbido sempre me pertuba o sono. É porque acho que, às vezes, ela tem razão. Ela, de hábitos noturnos, me faz pensar em o quanto a loucura do querer contradiz a razão do dever. Sou eu, então que, agora - após ser sacudida pelos zumbidos dessa dona estranha - emito os meus zumbidos. Eles, ora são estridentes, ora são quase mudos. Às vezes ofegantes ou esfuziantes e algumas vezes saem em forma de suspiro... Diferentes dos da senhora boba, meus zumbidos são confusos e se misturam com lágrimas, sorrisos, dor, satisfação, alegria, medo, esperança...
A Dona boba é um grilo.

Um grilo da minha cabeça.
E quando ela me olha com seus olhos arregalados posso entender o quanto tenho medo do que é indefinido, do que é informe... 
Percebo, então, que se trilho o caminho do medo, do inseguro, da fantasia, do que eu tenho medo de imaginar é porque sei que para sentir o cheiro das florzinhas diurnas, eu tenho que prestar atenção nas coisas imperceptíveis e romper com o que esperam de mim. 
Continuo trilhando e o grilo continua zumbindo, bruscamente: "Você só pensa em você! Não se importa em saber que o cheiro das flores estão sendo gastos..." 
Então, logo cedo, eu me pego olhando para as plantinhas, sorridentes e coloridas pela luz do sol e finjo não vê-las, para não ser tentada à cheirá-las e ir gastando sua beleza.Olho-as de longe e permito que o querer dê lugar ao dever...