quarta-feira, 2 de junho de 2010

Máquina de Escrever

Onze horas da manhã e estamos eu, Marcos e Juju aqui em casa. Marcos fazendo um trabalho da faculdade, eu escrevendo e a Juju datilografando na minha máquina de escrever. Isso é novo pra ela (vocês precisam ver a empolgação). Quando ela passou a existir já estávamos na era da tecnologia. Computadores já eram tão comuns como a luz elétrica e se, em meu tempo, eu me encantei com a Genialidade da Microsoft e Apple, Juju se encanta com a arcaicidade das Máquinas Olivetti. Ela já escreveu três páginas  - não inteiras, mas para ela são três páginas - coisa que ela jamais fez no computador, pois o editor de texto não consegue competir com os jogos, internet, músicas, vídeos, muito menos com o imbatível orkut, sem falar que na máquina de escrever nem precisa imprimir, como ela mesma disse.

Pensei, então, no quanto as crianças (e os adultos também) poderiam criar com suas próprias letras na máquina de datilografia. Tenho que reconhecer que foi um ótimo presente, pois eu não posso ficar deletando o tempo todo e, às vezes, até tenho que impovisar com a palavra posta fora de ordem. Me parece que com a datilografia as palavras têm mais espontaneidade e mais vida. Acho que elas se sentem mais livres quando sabem que não vão sumir com uma teclada ou um click.

E, enquanto continuamos aqui, eu, Marcos e Juju, cada um com suas mentes ativas em mundos distintos, olho para os lados e me lembro que minha casa se mantém na expectativa de ser arrumada, mas eu suspiro com preguiça (palavra horrível), pois tive uma noite mal dormida com fungadas gripadas do Marcos, que despertam o meu nariz - que é completamente influnciável - e já sabe, né? Espirros, falta de ar e até frio fora de hora.

Acabo de perceber que as palavras me vêem assim, como os espirros. Um tanto sob a influência de algo ou alguém, outro tanto fora de hora e às vezes até fora de lugar. Mas ainda permanecem tão presas, tão dependentes, tão imaturas, sujas e empobrecidas. Ouço-as hipócritas e cheias de estereótipos, com dicotonias de pensamento e forma. Será culpa dos vários fragmentos do meu ser? Será culpa da minha indisposição em moldá-las? Deposito alguma esperança, se ainda me resta, na barulhenta Máquina de Datilografia. Talvez algum dia seja ela a minha redentora e me possibilite as três páginas que deu, gratuitamente, à Juju!