sexta-feira, 4 de junho de 2010

Retrato do Brasil

Ontem, Paulo Prado, me contou aos sussurros e com o vocabulário rico e rebuscado de um bom historiador, pedaços da história da colonização do Brasil, em seu livro publicado em 1928, Retrato do Brasil. Confesso que, se não fosse por orientação da professora de literatura brasileira, eu jamais procuraria um livro desses pra ler. 

Justifico-me! 

Primeiro eu não conhecia Paulo Prado e depois que o conhecesse e descobrisse seu berço burguês, provavelmente teria resistência. Mas, a minha ignorância histórica e literária jamais me diria que ele foi elogiado por Eça de Queiroz e assumiu uma postura estrutural nas fundações da sociedade brasileira como historiador, literato, crítico social, militante republicano. Sua obra, talvez não tão lida e conhecida como a de seus companheiros Mário e Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Monteiro Lobato, possui, em sua singularidade, o tom histórico e retratista de quem se dedicou longos anos à pesquisa e a leitura dos mais diversos documentos que contam a nossa história.

Ontem tive o prazer de conhecer sua perspectiva de Brasil e suas palavras prenderam minha atenção,logo no início, com a riqueza de cores e sons com que conta o brasileiro “índio” pré-colonizado. E durante os quatro capítulos Luxúria, Cobiça, Tristeza e Romantismo ele faz uma sincera reflexão sobre as origens desse povo tingido de pau-brasil, enfeitado de ouro e “engordado” com cana-de-açúcar. Um povo mestiço de raça, de credo, de ideal, forjado entre aventureiros e sonhadores, fugitivos e desbravadores, mamelucos (ou mamalucos, como o autor prefere, por influência de seu mestre Capristano de Abreu) e aristocratas. São essas as primeiras gotas do sangue que correm em nossas veias. Sangue brasileiro, verde-amarelado que coloriu tantas telas na história, menos a sua própria.

Esse é o povo que em meio às fases de luxúria, cobiça e tristeza se esconde entre as batucadas do samba e os gols da seleção... E esse grito de gol vai rompendo os limites do corpo, porque vem da alma, e ultrapassa qualquer convenção quando esse grito pede liberdade. A liberdade de ser brasileiro com todas as cores e tintas que lhes são direito. Não aquele que não desiste nunca, mas aquele que terá um muro pra se encostar quando precisar desistir! A liberdade de ser alguém aqui mesmo, sem ter que ver seus filhos distantes para que eles sejam alguma coisa. A liberdade de pintar, com as próprias mãos, o verde e amarelo desse Brasil que é tão nosso!