quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Essa semana assisti a uma palestra na faculdade de uma escritora, mestre em sociolinguistica, que me encantou, não por sua retórica ou vocabulário rebuscado, tampouco pelo valor de suas roupas ou por sua postura. Confesso até que quando a vi, os esteriótipos criados pela minha mente acenderam suas luzinhas vermelhas e me fizeram pensar que seria uma palestra ruim. Mas, o currículo da mulher era tão cabuloso, que eu resisti às luzinhas vermelhas e arrisquei continuar no auditório, conseguindo um grande vitória sobre o meu espírto vagabundo que adora faltar aulas. Não me arrependi! Assim que ela começou a falar, com uma vozinha estridente, mas doce, já fui me encantando. Tipicamente vestida como uma professora - com saia preta abaixo do joelhos, casaco preto fechado até o pescoço, óculos com aro retangular e o cabelo encaracolado cor de mel acima dos ombros - ela não precisava da aparência para transmitir sua mensagem, nem do seu vasto conhecimento adquirido em rodas de linguistas ingleses e franceses. A mensagem que ela ia me transmitindo, pouco a pouco, estava além de suas palavras, mas se valia na importância e consideração que o seu olhar e seus gestos demonstravam a alunos de uma faculdadezinha desconhecida de Taguatinga. Era notável que ela tentava tornar os temas superficiais para que a nossa mente pudesse alcançar a dela, não em estatura, o que seria impossível naquele momento, mas em pensamento. E foi assim que ela veio a nós! Saiu do seu universo "letrado" com  nomes e conceitos desconhecidos pela platéia e passou a falar sobre cores, gostos, giz de cera, amendoim e até sobre o Pelé. Ao entrar no nosso mundo e ao nos olhar como iguais, ela foi tecendo em nossas mentes um cenário que não é feito de teorias, mas de pessoas, que não é feito de certezas, tampouco de verdades, mas de vontades e sonhos. A cena do professor e do aluno, do homem e da sociedade, da nação e de seu povo, do estado e o cidadão. Com as cores vivas da experiência de uma velha professora que investiu a maior parte da sua vida no estudo de uma língua como instrumento de socialização, a imagem foi sendo deslumbrada por aquele pequeno grupo de jovens estudantes que, da academia pouco sabiam, mas que nos sonhos se identificaram com a mestra.
Quando fui me deitar, eu lembrei que um amigo, um simples Galileu, faz o mesmo comigo todos os dias. Entra no meu mundo, usa a minha linguagem e me permite sonhar como ele, só para que tenhamos algo em comum, para que eu possa olhar nos olhos dele, sem receios, e chamá-lo de AMIGO!