segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Cerca de Pedra

Cerca de Pedra é o significado de ITAPARICA em Tupi e tenho que reconhecer que não tinha outro nome que fizesse melhor descrição da ilha que nos acolheu (eu e minha família) nesse verão. Quem pôde ver do alto comprovou que toda a ilha é rodeada de arrecifes que contêm as ondas e transforma a praia em uma grande piscina natural com água bem quentinha e cristalina. Não há quem não goste e não há quem não se encante com o venturoso mar que, associado ao vento, ao sol, ao céu e às nuvens, traz o paraíso até nós.

Os que moram aqui dizem que quando a Lua está cheia, as águas do mar chegam a tocar a pequena calçada que separa as casas da areia. Imagine só! Sair de casa e pisar no mar, sem passar nem pela praia. Mas, sabe que eu prefiro assim, um bocado de areia precedendo o mar me faz apreciá-lo com mais temor! Não que a distância faça alguma diferença em sua grandiosidade, mas a diferença se faz dentro de mim. Toda essa sumptuosidade do mar me causa, entre outras coisas, medo e nem dá pra arriscar não temê-lo. É por isso que a areia acaba sendo tão convidativa e, agora, concluo que toda a minha coragem em desbravar o mar, explorar suas criaturas e desafiar o próprio Poseidon, não alcançariam a grandiosidade que meus olhos alcançam quando estão apenas a observá-lo. São com os meus olhos (e não com as minhas afoitas braçadas) que eu dislumbro a eternidade desenhada ali, tão perto. Quando o mar toca o céu lá no horizonte o sol abre seus braços e os acolhe, enquanto o meu coração, palpitante, tenta acompanhar o compasso das ondas na tentativa de absorver a permanente constância do mar em ir e vir incansavelmente. No entardecer o sol vai transferindo sua majestade ao astro da noite e a Lua surge radiante, deslizando sobre o mar como se o estivesse embrulhando em uma fita prateada para presenteá-lo a mim. As estrelas regidas pelas constelações pontilham o cenário com suas luzinhas brihantes e os recifes, lá atrás, dão uma espiadinha por sobre as espumas das ondas que pululam neles. Não há coração que resista. Não há tristeza que fique triste. Não há angústia que ainda se angustie; não há dor que não cure; não há humilhado que não não se exalte e nem exaltado que não se humilhe; não há mais infelicidade para o infeliz nem alguém desesperado que não pronuncie uma nova prece de esperança. Não há incredulidade que não consiga crer!

São para todos os corações que a Lua presenteia o mar e não há distinção entre os corações que, de olhos  abertos, passam a fazer parte dessa composição.