segunda-feira, 20 de novembro de 2017

era o som do tambor aqui dentro
eu escutava,
era o cheiro da mata
da terra, da cura,
do único encantamento
eu sentia
e nem tentava entender

ciclo que nem chuva

na pedreira rocha
altares, cactos e sustento
e lá embaixo, na passagem de oxum,
pedra viva vibra e
me conta história antiga
tão antiga que
não lembro com cérebro,
mais pra pineal
me energiza

ciclo que nem chuva

construção,
casa grande de muro branco
celeiros
fogo na mata
corre, foge,
se esconde
que o caçador provê
e protege

ciclo que nem chuva

sinto cuidado ingênuo
quase desavisado e é
das mãos jovens de ossain
a cura
não medo da terra
não medo do natural
e tudo vira sobrenatural

ciclo que nem chuva

sentada na rocha, pedreira,
o velho xangô solta na voz dela rabugices
ensinando firmeza e sustentação, caô
pra mim que vivo nas nuvens
ensinamento sólido de
construir a casa na rocha
meu corpo na terra em terra
meu altar, reverenciando altares
minha casa
minha mente e coração
enterrados
pernas exuberantes pro mundo
cheiro, cheiros
vapor, protuberância
e eu tirei minha sandália, agô
pedi licença, agô, saravá
e entrei naquele santo lugar
santa casa árvore
fui casa
fui templo
fui corpo
fui altar
e lá de longe
vi entrelaçadas as duas
tão diferentes
uma branca, outra preta,
sendo as duas tão únicas
malhas, teias, rizomas,
em proteção, lugar e casa,
enquanto suas falhas,
perfeição...!
enquanto suas folhas a se
misturarem na minha lógica de
uma em duas, duas em uma

tronco que acolhe espinhos, espíritos
teia que acolhe gota
meu corpo, meu templo, minha casa
me acolhendo, me curando
atotó babá!




















fotos de fernanda fontoura