quarta-feira, 13 de junho de 2018

juntando os cacos
daqueles pedaços
de espelho quebrado
a imagem que vejo agora
tá fragmentada
cheia de pontas cortantes
e não é mais bela como eu pedia

deformada
deformando
a rigidez do reflexo
que carrego
com peso de patriarcado
mas,
aquela unica verdade que me refletia
caiu no chão

(como caiu por terra a bíblia do crente transfóbico do metro)

caiu e despedaçou o reflexo de um belo que não era eu
fragmentada eu tinha mais faces
despedaçada eu tive mais faces
eu me juntava,
me recolhia
um pedaço daqui
dali, de lá de antes
de agora e depois

e, saudosa,
ia me enxergando
e, mesmo embaçada,
retalhada, cheia de esparadrapo
era ainda a melhor imagem que eu já tinha visto de mim!