um riso solto quase que involuntário
sentenciado a nunca falhar
a nunca perder o prumo
era assim que eu ouvia
a vida
a vida me contava todo dia
uma rotina repetida
que parece igual mas nunca
nunca é igual
um contraste as vezes
pouca luz
dia ensolarado cinza
amores e dias cinzas me afirmam
assim
sem chuva
só vento e muita nuvem
no céu e na minha cabeça
a parte que me cabe ser fumaça
passear com o vento, com o verbo
passar de mãos dadas com o abridor de caminho
que sempre sabe a hora de me deixar sozinha
porque me desamparaste?
clamava!
e chorava até sangrar, imagina!
esperança de que um dia eu retorne ao meu lar
àquele lugar onde o tolo e a cereja têm o seu espaço
imagino os sinos de uma igreja marcando 9 horas
nove badaladas
eu sempre achei genial
não precisar andar de relógio e se ambientar
pelos sinos que vibram
aquelas ondas sonoras invadem um pedaço da cidade
entram em um pedaço de mim
e eu faço um pedido:
dai me a graça de viver a graça de graça
sem
ninguém
nenhum valor
nenhuma lei
nenhuma culpa
que me julgue
que me diga como viver
vivo de graça
e isso é estranho demais pra esse meu jeito lucrativo de pensar a vida
pensar em acúmulos,
lucros e em promessas futuras
é um jeito de alguém determinar pra mim
o meu próprio caminho
tem uma lâmpada que ilumina meus pés
uma lamparina que carrego nessa busca eremita
uma noite mal dormida
uma tira de couro estendida
enquanto as horas pingavam como goteiras em minha cabeça
e se arrastavam!
sou eu o meu próprio sossego
ele passou a noite toda ali do lado
puxando o punho da rede
tentando me fazer medo
mas já não tinha jeito
eu já sabia o que eu queria
e por onde seguia
difícil um livro de normas ocidentais incidentais
me tirar do prumo de agora
imagina, milhões de galáxias aqui dentro
constelações inteiras
planetas energia cósmica
dentro em mim
energia feita gente!
fera e bela
alegria alergia
luto loto
logo a gente percebe que
cruz, bíblia e espada é a mesma coisa
quem sente brilho na mente
sabe também de gelo no coração
esse lugar de conforto e alegria e paz e sossego
só é possível se o outro também for
tem que caber desconforto, tristeza, desassossego
se não a gente nem saberia que gosto tem a felicidade
porque pra mim ela é tipo um gosto
que vem pra gente gozar e passa com outros gostos
e tudo só cabe nela porque a gente sente que sabe como é ruim o gosto da ausência dela