terça-feira, 3 de maio de 2011

Notas de Subsolo

Acabei de concluir a leitura de Notas de Subsolo e, como sempre, Dostoiévski se revela encantador! A obra é praticamente um monólogo do autor das notas, que é um personagem fictício como o próprio autor fez questão de esclarecer, mas que pode ser encontrado em qualquer canto de nossa sociedade ou em qualquer subsolo! Trata-se do homem subterrâneo e, talvez seja por isso, que é um tipo de leitura noturna. Noturna no meu modo de dizer. Noturna porque se lê às escondidas, pois desnuda quem se arrisca a ler. Eu me pegava o tempo todo, olhando para os lados, com medo de alguém estar me vendo daquele jeito, como se estivesse fazendo alguma coisa errada, envergonhada por alguém me descrever com tanta veracidade e franqueza. Seria eu também uma habitante desse mundo subterrâneo, onde moram os ratos e por onde passam os esgotos? 
O tal personagem já  nas primeira linhas se declara um homem mau: "Sou um homem doente... Sou mau. Não tenho atrativos." E assim ele vai desenrolando sua percepção do mundo e dele mesmo, fazendo reflexões sobre o "sublime e o belo", (que, segundo a nota do tradutor, tal expressão era popular entre os críticos russos nas décadas de 1830 e 1840, por se tratar do tratado de Kant intitulado "Sobre o sublime e o belo.")
E, depois de expor toda a sua visão negativa de mundo e seu inconformismo com as ações humanas, o anti-herói, como ele se intitula no final, conclui: "(...) porque nós todos nos desacostumamos da vida, uns mais, outros menos, e nos desacostumamos ao ponto de sentirmos às vezes uma certa repugnância pela verdadeira 'vida viva', e por isso não podemos suportar que nos façam lembrar dela." 
Um livro filosófico, reflexivo, impactante e, segundo Nietzsche, "um verdadeiro golpe de mestre da psicologia."