quarta-feira, 6 de julho de 2011

Jane Austen (Clube de Leitura)

Da encantadora, profunda, complexa e inédita Clarice Lispector, fomos para Jane Austen. A jovem escritora que assumiu todos os riscos e ousou se tornar romancista em uma sociedade machista e preconceituosa, onde a aparência sobrepujava a essência. Estamos lendo Persuasão e a trama é bem corriqueira e até previsível demais para se detectar catarse ou qualquer sinal de surpresa. Mas o que mesmo torna um clássico em um clássico? E, ao me fazer essa pergunta, posso até escutar a voz da profª Senna Siqueira dizendo que: para ser um clássico é preciso ser essencialmente humano. Não é o extraordinário que me encanta em Austen, até porque não tem nada de extraordinário - no sentido literal da palavra - mas é a maneira branda e suave que ela tem para falar do hoje, do amanhã, do ontem, sem precisar filosofar. Ela me faz sentir mais do que saber, ao contrário de Clarice, em G.H, que derrama um tanto de conceitos em cada parágrafo ou linha! Clarice é excepcional, claro, não há como negar, mas Austen deixa soar nas entrelinhas o desejo de uma alma jovem em ser uma grande escritora que deixa sobrar nas linhas o seu próprio cotidiano, enfeitado e adocicado pelo código linguístico. Eu me identifiquei, confesso. Me identifiquei pelo sonho, que de tão grande, está sempre se esbarrando no dia-a-dia e nas coisas mais banais. 


Anne Elliot, a principal personagem, é quase uma santa e eu não me irritei com ela. E como eu não me irritei se eu sempre me irrito com as santas? Simples e nem é preciso pensar pra saber, basta sentir! A santidade em Anne é uma contestação, uma manifestação de revolta, uma insatisfação com o tipo de valores que a cercam! A bondade dela não a torna superior como em outras histórias de "heróis" e a superioridade nela é ocultada pela própria Austen que tenta mostrar a redenção pela essência e não pela aparência como a gente insiste em ver.     


Do mar revolto de Clarice, navego agora nas águas tranquilas de Austen e me delicio pois aqui posso sentir mais e saber menos!!!! Tenho que dizer que para um mês de férias é ótimo descansar em águas mais calmas!