no trem me olhou
uma vez, duas, três vezes
caracas, eh sério?
no primeiro impulso
tive vergonha
mas logo vi q ela
tava me olhando muito
eita Daniela, olha pra ela!
[ela q sempre rima com seu nome]
olhei e ela fugiu o olhar
eu bem atrevida
insistia olhando
uns trinta e oito ou quarenta
talvez,
linda, olhos não grandes
bem abertos, assustados
pele clara e já com rugas aparentes
q as deixavam mais linda
a blusa verde, desabotoada
revelava um colo cheio de sardas
e histórias de um céu pontilhado
de desejo nunca antes
habitado pelo prazer
me senti capaz de voar bem
longe até alcançar aquele
céu e beija-lo!
ela me olhou pelo vidro
eu olhei, ela disfarçou
e eu ousei,
a porta do trem abriu
e a coragem vontade só aumentava
eu tinha duas opções:
o lugar que acabava de ficar vago perto dela
ou um lugar em algum espaço desse meu
mundo q estava tão vazio e ansioso
pelo desconhecido e atraente presente
q se apresentava!
qual seria meu lugar nisso tudo?
sentei do lado dela
[um lugar legal pra comecar]
e a gnt se conheceu
uma vida toda em apenas 2 horas
trocamos poucas palavras,
a pele, os lábios, os dedos
o cheiro, o pescoço, os suspiros, cada gota de suor
e toda água daquele mar araguaia
se derramava e me jorrava regando
minhas curvas e funduras e fazendo brotar
uma flor bruta q se desabrocha
como o ramo de oliveira no deserto
se deixando levar pelas águas
que cobrem o mar.
p.s.: a gnt não compartilhou redes sociais,
nem telefones, nem ceps ou sobrenomes,
mas durante toda a nossa vida teremos
2 horas de eterno e puro prazer!