sexta-feira, 26 de outubro de 2018

tem flor q nasce e morre todo dia
tem flor que só uma vez na vida
às vezes, de ano em ano
outras vezes, só em clima quente
umas gostam é de chuvinha fina
e tem as de chamego 
sem luz do dia
pra enfeitar nascimento
caixão buquê camarim

o que eu sei é que às vezes me sinto despetalada
de flor em flor
a seiva dourada do encanto mágico
das nossas folhagens em floração
perdura o cheiro suave
da textura pele pétala
em consideráveis gotas
de amor e tesão e imensidão
dentro de mim dentro das tuas cavidades
dos teus becos e lugares quase nunca visitados
escuros secretos mágicos
e eu 
des pe ta la da
me entrego
aberta
arreganhada
pra ser sua e nossa
em prazer

revoluciona o sol
revoluciona a lua
e meu coração 
músculo inteiro
vermelho
revoluciona
e pulsa ligeiro
porque tem medo
medo de ter medo de te amar
medo de virar a esquina e não poder cantar
medo de tiro tirar a vida das veias das sereias
medo de ter que lutar pra ainda acreditar
medo de não mais me emocionar 

estrada pontilhada 
migalhas
marcando passos pé a pé
uma flor caída, pisada, 
pétala aqui, ali
espalhada
do tempo e do espaço
eu só sei da passagem
eu só sei estar passando
e nunca pára! nada pára
nem o espaço nem o tempo
nunca para!
a flor pisada passa
e no topo da árvore
vem sorrindo a primavera
acolhendo as pisadas e as pétalas amassadas

como as estações elas passam
e ainda bem que passam

flor tem vida curta
e num dura a vida toda seu cheiro e cor
num adianta colocar aspirina
nem mudar a água toda hora

a pétala seca guardada dentro do livro
é também flor
a que enfeita o caminho tb é flor
as pétalas amarelas no cumbaia, é flor

é flor 
um desenho de nuvem
uma canção de cigana
a que foi roubada no caminho 
pra enfeitar um sorriso

e tudo passa, minhas irmãs!
tudo passa!
a única coisa que não passa 
é a eternidade de existir!