quinta-feira, 1 de novembro de 2018

não 
não me silenciem
ainda que a dor do meu sossego seja só
desassossego mesmo
a cruz
a espada
as chagas do curador
marcas de faca na garganta e no peito
pra provar que amor é motor
e até mata se o medo congela a alma
e dá vontade de limpar é no sangue dele
meus pés!
eu não sei o que me dá
mas já nasci assim
eu sou eu desse jeito mesmo
e descobri que o universo faz e eu aconteço
e o inverso também
há perigo nas esquinas
assassina má perigosa
mostro os escrombos de mim
mas ninguém vai falar das sapatão assim
ora, deixa a pessoa ser ela! 
não corrijo 
mas também não quero que
me corrija com normas e regras
como a coruja estufo o peito e fixo o olhar
eu sei da espada, eu sei das chagas
sabedoria nata de quem já nasce assim
sabe o lugar onde até florescer é indecente?
lá eu fui eu desde sempre
ser gente era garantia de ser incluída
e ser eu implicava em quebrar com verdades instituídas
eu existia e só o fato de eu existir
não combinava com o que os meus irmãos
queriam de mim
óbvio que o reino de deus não foi feito pras lésbicas, se ele foi construído 
por mãos brancas masculinas ocidentais!
dá vontade de matar
de subir em cima 
e sufocar tudo isso que me sufoca
o meu ar rarefeito
nesses tempos de pouca oxigenação
entala um gemido na garganta
e,
lembra daquela última sardinha da lata?
é hora da gente começar a aprender 
somar e dividir!