segunda-feira, 23 de março de 2020

essa dor que eu sinto
esse ardor no peito
minha fuga, meu jeito, 
meu sonho enjaulado
minhas manias 
a dor de ir 
e saber que semente morre pra nascer
virar cinzas, voltar ao pó
poeira estelar cometa 
dialética de eternidade
sorriso do cosmos 
é estrondosa a sua voz em mim
som do silêncio
envergando a minha curva costa miúda
pra caber, pra encaixotar
minha performance existencial
caibo onde não devo
não caibo onde mereço
se bem que...
merecimento mesmo nunca tive nenhum
usurpo uma identidade brasileira 
de casca dura e solavancos
de onde o fruto da vide
é essência de cana
e da braba

guardo um segredo de raiva 
salivando sangue da gengiva crua
sem dente pra esconder a carne
oh força que faz meu querer certo
não deixe meus erros serem tão certeiros
quanto minhas dúvidas!
sombrio espaço nos passos do caminho
na travessia é preciso coragem
e contagem, passo a passo
eu não sei o que deu em mim
mas a raiva é sim um motor que
me acelera distâncias pra dentro
pro fundo pro interior inteiro me esperando
faísca pérola circunflexo 
som obtuso e às vezes basta uma bata azul sobre os ombros, 
escombros de papel
em literatura que explica os mal bocado também! 
os desbocado afiam suas línguas facas
na pedra angular
e quando o ângulo não tá certo?
a pedra pode servir de altar 
pra lembrar que nem tudo 

tem que tá sempre no lugar!