esse jeito doido de me conhecer é doído
o nunca aquietar dessa paisagem gelo e sol
derretida a superficie
um vislumbre
ouço uma canção antiga
hinário de igreja
não dá pra me contar em 1 e 2
tem que ser no mínimo 3
pra dimensionar
não é invenção minha
acredite
eu sou ruim co'essas coisas
nem vizinho nem grama nem córrego
um despertar
(como quase sempre, às 4:44)
não dá pra dimensionar
vendo só aparência
querência é eu numa manhã de carnaval
queimando a pele
sentindo o fulgor de um desejo enjaulado
semente que não podia brotar agora
mas quem é que controla solidão?
nós duas que nem bicho solto
nos vimos sós em meio aos vazios
sós
nossos vazios
sem sol nenhum pra nos convencer de erro
ou nos converter dos nervo
nem no domingo, dia do senhor,
eu prestei!
canal entupido nos olhos
que nem minha mãe
a chorar o tempo todo
houve um tempo que minha mãe
chorava o tempo todo
não era por dor, nem pudor
tinha um rumor tumor
departamento de defesa
e chama policia toda até corpo de bombeiro
e não adianta toda força tarefa
pra impedir a fluidez do canal lacrimal
é que nem bloco de carnaval desse ano
vai brotando de tudo quanto é lugar
até em apartamento apartando a gnt
dos bares e sonetos,
sono dum fim de madrugada
hoje não é o meu último dia de carnaval
libera a passagem do canal lacrimal
e deixa o bloquim passar
isso também é carnaval
a chuva.
as pessoas andando fantasiadas
na rua
eu nua, pinga e sorvete
amizades daquele passado vivido na carne
é pra carne a festa da carne
meu juízo falto
minhas regras bobas
meu desejar-te toda
sou eu o escândalo que te faz sofrer
sou eu o proprio projeto da loucura
que só vem depois que se encontra o prazer
não há mais nenhuma punição
que me convença a separar a alma do corpo
da carne
pão e vinho
comer da própria carne
beber o próprio sangue
acho que é por isso que minha pele esquenta
fogo do vinho
forno do pão
a festa da carne
encarnando em mim
dionízios e clarices
girassois e revoadas
vamo sonhar mais um pouco
ainda é carnaval