segunda-feira, 23 de março de 2020

eu nao sei falar sobre meus sentimentos e quando tento falar me sinto explicando algo q não é de entender, me sinto diminuindo, ou dando significado pra uma coisa q vem de um outro lugar muito mais fundo. 

eu já senti tanto medo!
eu ainda sinto medo e a minha maior ilusão foi acreditar q eu seria capaz de mudar o medo, fortalecendo o ego e fugindo desse peso q eu sinto agora no cardíaco, como se a qualquer momento uma bomba fosse explodir ou implodir em mim.

eu quis tanto o amor de tanta gente!
eu já fiquei presa em casa, já levei tapa na cara, nem sei quantas vezes fui empurrada e maltratada e quantas vezes eu me machuquei me odiando por não ter tido outra vida, outro jeito, outros gostos... todo mundo ta tão machucado, o marcos estava tão machucado...

macho machucado machuca 
e o meu macho machuca pra se proteger
prazer meu era estar só pra poder sentir pena de mim...
era o melhor sentimento q eu tinha pta mim: dó, pena, autocomiseração e como eu odiei essa palavra!

ei queria ser a mais forte!
eu precisava ser forte 
foi quando descobri q fingir seria meu modo
de existir
fingir que ta tudo bem, que tem sempre sorriso e elogio disponivel pros outros, que tem ouvido, que tem conselho, que tem saber, 

mas a farsa se desmonta toda
a casca cai e revela esse miolo mole gosmento cheio de agua contida
eu já fiz remendo, reparação, pedi perdão
mas nunca tinha reconhecido que a minha dor nunca dita, nunca compartilhada
causa um aperto asfixiante no peito
e o cristo q ficou horas se asfixiando na cruz
só me salvou porque ele deixou tudo ali exposto... 
culpa, vergonha, medo, sangue, ferida, àgua, carne apodrecendo e eu aqui...

ainda fingindo
finjo menos agora e, sinceramente, sofro mais
não vou mentir dizendo que revisitar umas dores com nova consciência é di boas porque não é! 

um peso enorme aperta meu peito
minhas palpebras secas e cansadas desfalecem, um ardor no fundo do olho
tento respirar fundo e é como se tanto ar preso me deixasse sem ar

eu sei q eu sou filha da liberdade
desde aquela fuga no meio dos coqueirais
eu nao queria q homem nenhum mandasse em mim

eu canto liberdade pra me libertar!