domingo, 5 de fevereiro de 2023

yanomame
também no mangue
gangueia ao gosto do fel
sangue derramado
custo pago já tantas vezes
e os esforços todos já não bastam
pra que a terra seja assegurada de sua
sacramentalidade!

yanomame
meu desapego
a essa brita toda que passa em cima do rio
dessa saudade eu sei
pra alimentar a esperança
de encontrar você na selva do meu coração
de ser só o céu, o rio
as pontes, o vento sorrindo
as pedras acelerando o curso
passagem e travessia
percorrendo distância e alongamentos
desse sem fim que é ser

yanomame
lembro de você agora
sentado ofegante
um homem tão forte, tão grande
num tempo tão distante
turva memória
minha reativa lógica
forjando um eu sem história
mas é na curva de rio e em pedras amontoadas,
grandes e pequenas,
que as águas encontram força pra sua velocidade

um homem tão grande, tão forte
em total entrega à própria sorte
leva a cuia pra boca
simbologia do corpo
aos aspectos mais específicos do sentir!

[eu fiquei tentando lembrar
qual filme aquela menina tinha falado
sobre cobras
eu demorei pra lembrar que era sobre 🐍 cobras]

yanomame
tupinambá
desde a linhagem de Dan
a cobra, o velho, o vento,
o que é ereto!
o desalinhavar de um sentimento
mais senil que mental
meus nobres sênex e puer
a resguardarem a integridade
das minhas duas faces
tão opostamente complementares!