domingo, 5 de fevereiro de 2023

a vastidão desse meu eu, terras que me habitam!
a devassidão que eu nem vi ainda
os vales, quebradas e colinas.
daqui de cima é tão embaixo quando muda a perspectiva ...
deva -
gar
e quase parando
é assim que vou indo
voo vindo ouvindo o rugido do vento
navalhando o meu desejo,
bem agora que o amor vem devagarzinho
um cheiro longe num pedaço de papel tão pequeno
onde escrevi meu intento!

devo estar a poucos quilômetros de onde nada devo

paro e respiro enquanto tento lembrar
que só tô aqui nesse lugar
porque ousei largar mão da esperança tola
de tentar mudar o ritmo do coração com o nó da razão!

não há certeza ou verdade nenhuma no mundo que me explique
não há rótulo, nem legenda, cartilha ou manual de instruções ...

eu sou um conjunto de alguns raios da luminosidade que chega à minha consciência. 
toda a grandiosidade que sobra é a matéria escura que arquiteta a minha mais profunda verdade!


a fuga da espera em tela
corpo vivo
particípio
princípio da parte que te cabe a arte
partículas espalhadas
pelo sopro forte do vento em samambaia
nuns fins de tarde!

oro pra que a espera acabe
mas vejo que ela, em vela
navega e
cura da pressa de ser impossível

eu ouvi o canto do mar a silenciar
a distância da saudade em sal na terra
salgando a esperança do reencontro

só que se espero demais
passo a contar me em cédula

quanto custa e onde fica minha morada
sem nem poder ter namorada?

cansei de esperar ser suficientemente boa
pra me aceitar em flash de criança criação

ser é o meu maior desafio
desde que a voz da criança teve que ser silenciada
e grunhia dentro de mim
aumentando a distância
eu e meu ser

eu observei os olhos de muita gente
e também fui observade profundamente
calade a maior parte das vezes
eu falo muito quando estou em ambientes em que me sinto confiante,  e quanto menos eu conheço a pessoa,
mais segure fico pra falar de mim
estranho estranho dani
talvez você só fale o que gostaria que as pessoas soubessem de vc,
não o que você é exatamente
até porque nem tu sabe quem és!

se-lo eh a palavra que me consola
a navegar entre o não binarismo do sim e do não
do bem e do mal
do erro e acerto

eu não sei a dimensão das distâncias que há entre nós!

25 DEZ 2022

porque parece tão mais fácil não aceitar do que aceitar o que eu acho diferente?

deforma tudo, sai da forma
fórmula que reproduz em série
a marcha repetitiva do padrão
em promoção!

não tem nada mais sem graça do que a graça ser condicionada por certo e errado!
curva do misterioso oráculo estelar
nem se importa em mudar o rumo das coisas
num sopro pó de estrela

e tudo se desfaz
as certezas
o todo embrulhado pra viagem
a mala, o soquete, os trilhos do trem batendo ainda na minha cabeça
a lembrança corriqueira do medo!
um passarinho pousa na janela, mas assim que eu me viro pra olhá-lo ele sai voando... tão bonitinho
volta depois e mais uma vez
vem com mais um e depois mais um
enquanto os observo fico numa felicidade imensa feito fogo formigando minha pele
sim, tô feliz com o que tenho me tornado
é um processo longo
onde o fim é só o começo
para um maior mistério!



não se preocupa meu bem
q'eu tô de mutuca até o dia clarear
é noite, 
essa hora que é boa pra ideia firmar
firma firmamento firmeza no pé da estrela
toda a riqueza e qualquer tanto de medo
vem do mesmo lugar!

eu fiz o jantar
juntei a loça pra lavar
arrastei o sofá, saí do lugar..
doce lar
tá assim meu lugar,
meu canto pra sossegar

e é tão eu:
a vida em miniatura
como se fosse pra brincar
brincar de verdade e poder amar
sorrindo, poder amar
chorando, poder amar!
pois se de pequena em pequeno é que vai se fazendo a grandeza
continuo seguindo com meu passo curto
um de cada vez

já errei tanto
já fiz do jeito torto demais o embaraço atraso
já falei quando não devia
já gritei quando não era hora
já calei quando tinha que falar

e parece que eu nunca sei
parece que eu nunca sei ao certo
o que é de fato o certo
qual é o fato certo?

olfato
tato
sinto o meu existir
mas não é só cheiro e toque
tem osso rangendo
cartilagem gasta
cansaço
coragem pra ir
onde ninguém mais pode, além de mim!

continuo seguindo
com meu passo curto
um de cada vez

yanomame
também no mangue
gangueia ao gosto do fel
sangue derramado
custo pago já tantas vezes
e os esforços todos já não bastam
pra que a terra seja assegurada de sua
sacramentalidade!

yanomame
meu desapego
a essa brita toda que passa em cima do rio
dessa saudade eu sei
pra alimentar a esperança
de encontrar você na selva do meu coração
de ser só o céu, o rio
as pontes, o vento sorrindo
as pedras acelerando o curso
passagem e travessia
percorrendo distância e alongamentos
desse sem fim que é ser

yanomame
lembro de você agora
sentado ofegante
um homem tão forte, tão grande
num tempo tão distante
turva memória
minha reativa lógica
forjando um eu sem história
mas é na curva de rio e em pedras amontoadas,
grandes e pequenas,
que as águas encontram força pra sua velocidade

um homem tão grande, tão forte
em total entrega à própria sorte
leva a cuia pra boca
simbologia do corpo
aos aspectos mais específicos do sentir!

[eu fiquei tentando lembrar
qual filme aquela menina tinha falado
sobre cobras
eu demorei pra lembrar que era sobre 🐍 cobras]

yanomame
tupinambá
desde a linhagem de Dan
a cobra, o velho, o vento,
o que é ereto!
o desalinhavar de um sentimento
mais senil que mental
meus nobres sênex e puer
a resguardarem a integridade
das minhas duas faces
tão opostamente complementares!


sábado, 12 de novembro de 2022

é o velho medo vindo
às vezes se veste de culpa,
mas pode ser também preguiça pra autorreflexão

será q tem mesmo um jeito certo de viver, de agir
pra que a minha vida e vinda ao mundo não seja tão insignificante?
como não seria, né? acho que é de insignificâncias mesmo que vem o significado das coisas.

uma coisinha tão pequena
uma gota um vírus uma faísca
a vela inteira sem o pavio,
miúdo que seja,
num queima, num clareia

não teima
que o que eu digo
anseia qualquer seita
e aceita o que preceita
na ceia de sexta feira

salto livre de uma pedra gigantesca na cachu
e só eu a deslizar descalça pra não arriscar a nudez do modo
como o medo me solavanca a esperança 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

espírito solto leve feito vento
é  disso q sou
ventania
um homem mandando um menino ter moral com a mãe 
é uma estrutura tão dura,
tão viva, tão arrogante 
como me livrar por completo dela?

boto fé que eu já me livrei e isso são apenas 
lapsos da memória,  do hábito do ego e da mente 
q se esforçou tanto pra se adaptar até perder o ar!

não mais, não mais
nenhum homem, nenhum menino!
nem mulher alguma 
vai mais dizer quem eu devo ser!

minha imaginação vaga entre criar e lembrar
lembrar e criar 
memória viva que modela o futuro
com os fios condutores do inimaginável a soprar pro meu mundo frestas da sua imensidão!

três da manhã

três da manhã e eu acordo
ouço minha voz, onde mia a gata noturna
a desintegrar meus turnos
tarde é dia e entardecer rotina das seis
em samambaia o lilás entre as furnas
fúrias do vento, desenho de nuvens
a cada instante um céu cenário novo
aqui dentro eu vivo um trabalho em equipe
um vício meu querer fazer tudo junto
conjunta minha vênus e mercúrio em escorpião 
é tão bom tão inerente ao meu imaginário 

fecho os olhos e vejo corpos trabalhando juntos,
homens e mulheres, um se parece com o silva, tipo vestido de testemunha de jeova. estranha essa imagem, mas ela veio forte e ainda ta aqui comigo. 
talvez um condicionamento, um jeito de esperança pra vida q depende do olhar da outra, do outro pra girar! 

eu tô louca pra transar
pra conhecer alguém especial com quem eu possa 
me soltar e me conhecer mais sexualmente

a selvagem q sou anseia pelo veneno do escorpião na dose certa pra cura!!!

quero estar aberta pra viver isso, pois pronta e preparada sei q nunca estarei, mas mesmo assim, qro mais uma vez me por no risco de ser eu mesma numa relação inteira e funda!



terça-feira, 6 de abril de 2021

conheci o reino

do castelo coração 
onde eu sou forte cidade ciencia e pequenez
não sou apenas uma
sou várias vários 
ovários e ovos
voos noturnos 
apalpando a escuridão mais com tato
contato
do que com visão 

eu que achava que ser humano era ser cristão 
e existiria um céu,  um reino, só pra uns escolhidos
percebi que ser humano era muito mais que estigma
é existir todo dia com ou sem meta ou promessa
apenas sendo o brilho, o trilho da vida
existir com a consciência de cada parte do corpo
respiração reciclagem transcendência 
morte e ressurreição 
caos e ordem 
estruturas mais complexas que sim ou não 
a e b ou ele e ela

quanto mais eu expando meu peito
mais eu me caibo no amor
mais eu me vejo 
percebo vazios espaços ainda tao longe, desabitados
as vezes dá uma sensação tao profunda de solidão 
de ver por fora, com o olho da outra pessoa, do outro humano,
a aprovação, o desejo, o olhar, a adoração 
os pequenos deuses inflando
e que confusão ...
'...a dor e a delícia de ser' 
e se conhecer!

enxurrada

de madrugada
me encharca
me acorda
me leva
pras suas fontes
suas águas

 um nome sonhado

um nome buscado
identificado 
deus é meu juízo
e minha juíza

ela sonhou com seu nome e mudou
e se curou e transformou-se no que se imaginou 

batismo secreto íntimo 
pensamentos cativos a quem se não a mim mesma?
eu me batizando nas águas do espírito. 
num tanque batismal em uma assembleia 
debutei deitada nas águas 
e meu coração meio q apertou quando lembrei
da canção, das flores... o perfume, as caixas, as formas, as expectativas...
um púlpito e várias mãos guiadas 
com destinos prontos

sinto que o rio que flui de dentro de mim
não tá pra ser represado

minha garganta coça
imagino ranhuras e começo a ranger os dentes
é uma secura que estala estirada ao sol
raios quentes corrompendo a pele 
o fogo de dentro 
medo de devastar 
pentecostal
em línguas diferentes
a película rompida
em carne viva

a música e o sexo são as a coisas mais 
pentecostais que
eu conheço 

aos santos eh dada a largada chegada

do mistério de simplesmente existir
sem fingir sem cobrar débito
mas sendo o maior crédito 
da sua própria realidade
a que você faz e só vc
sabe! só vc sabe da
importância vívida
se ter q escolher
um dos lados
política é o
corpo da
estranh
a cria
nça
e
eu
nós

maramar

maramar 

arrabaldes
arsenal de pedra 
novidade, dizia ela,
uma ponte entre o beat e a palavra
dada na hora, sem pedir, sem esperar
não sabia o que ia vir, 
só sabia o que qria deixar

maramar

em amargura e fúria 
despejo o azedo ácido do meu peito
arde sem medo a garganta 
e esse gosto de agora
a me tirar o sono
a levar em prosa funda e mental
fundação fundição fundo 
fundoue 

maramar

do mesmo amargo, mel
nas entranhas da luta com o forte, doçura 
das águas de noemi, mara!

maramar

doce nunca foi o mar
amor amargo de mar
é tão fundo
e tá lá tanta vida que eu nunca vou saber toda
....nem esquecer 

mara mar amar amargo mar

junho 2020

abril de 2020

um esgoto de mim

é assim que me sinto às vezes
ora quando bebo, ora quando falo demais
aí eu acordo às 4, sem sono, sem sonho
tentando puxar da mente a lembrança
de como eu cheguei aqui.
com a mesma roupa, 
o cheiro de terra nos pés
a culpa 
travei na culpa
palavra estúpida que inventaram 
pra eu me calar

li ontem o livro da taten 
"leve sua culpa branca pra terapia"
e senti culpa, claro...
isso de agora, futuro, verdade
palavras... 

minha culpa revelada é só pra fingir a
verdade de agora! e isso me pareceu investimento, expectativa, sei la
culpa me engasga, me entala
me revira as tripa
eu tenho os comixão tudo
mas essa q eu mais odeio em mim 
está mesmo doida pra ser livre e poder delirar

eu já acreditei mesmo q por ser filha do mal
deveria anular tudo com o bem
as pernas fechadas e o desassossego
dos joelhos, da mandíbula
os dentes de trás
ser boazinha seria fácil pra mim
aos 7 anos descobri 
que era melhor sorrir na festinha de aniversário
porque até os 6, eu chorava
e tinha a cara brava
foi com 6 q veio o órgão, e o
meu primeiro bebê, 
meu primeiro brinquedo de mulher.

longe de mim foi ficando o cerne
o urso polar, a leoparda de pelo preto
eu tinha um sorriso bonito
e sorrindo daquele jeito
vestida nas roupas certas
eu tinha sobre mim aqueles olhares
que eu tanto desejava dela, dele

o esgoto que eu vomito hoje
existe sim num lugar específico de mim
se as cidades nao tivessem asfaltado os rios
sucupira eu
nem precisaria de esgoto
escremento é adubo
e a terra colhe de novo aquilo q planta
e nessa dos alimentos sólidos demais,
plásticos e inseticidas,
como devolver tanto lixo ao petróleo
e soca-lo de novo debaixo da terra?

acho que isso resolveria tanta coisa
acho que até falta de ar
até o ar que me falta 
quando me sinto culpada

se eu furasse um buraco no concreto
e separasse o cimento das pedras, da areia e da água
talvez até aplacaria um pouco da minha raiva
mas não! 
é na expressão! 
ta no cerne da questão
nem esperança nem medo

confesso! um não é difícil mesmo quando tudo o que meu corpo mais quer é a perdição do seu! é errado, eu sei! e isso me dá culpa também! mesmo sabendo decorado que alguém sempre leva sobre si culpa dos outros.

eu já deveria saber que nenhum dedo apontado poderia me causar isso se eu tivesse um pouquito mais de fé em mim

não naquela amedrontada que acha virtude
no cabelo liso e na pele branca
pra pagar de boazinha
baixinha, delicadinha, tão feminina
"dá até vontade de cuidar" 

mas naquela que prefere o silêncio
ao discurso vazio de uma não prática
habitual nas de cabelo liso e pele branca
o meu corpo não silencia minha liberdade
mas às vezes meu argumento enjaula meu jeito doído de ser.

o jogo sujo do mundo
quer que eu viva de expectativas
mas meus ossos e poesia
desejam comer boa parte de quase tudo
...sem o privilégio da pele, do pai, do patrão
do pendão, do perdão
ser perdoada é fácil com esse tanto de mérito
difícil é perdoar-si
essa é uma nota sensível

acho q jesus saía perdoando todo mundo
pq ele entendia que não precisava morrer
pra nascer de novo. 
todo mundo pode se perdoar sem estado e sem igreja pra fazer isso, assim tb como pode se amar (a si - a nota sensível)

às vezes o que a culpa quer, na real,
é a cara na moeda. 
dai a cezar o que é de cezar. 
e por 30 moedas se levanta mei mundo
de traidor
e pra essa culpa, pobre judas, 
teve apenas a madeira da figueira
pra sustentar.

eu não vou mais me pendurar em nenhum madeiro
eu não vou mais me culpar pra receber o merito da branca de neve que nunca se olha no espelho.
eu não vou mais viver a expectativa 
de ser boazinha um dia 
porque eu acho que no fundo mesmo eu não nasci pra isso!

abril de 2020

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 eu precisei ter certeza nas maiores falhas 

e não ter medo de recuar pra seguir em frente

pro que for necessário 
eh caminho já traçado 
não há meta que me pare 
repare que eh só chantagem a vantagem no conto contado todo errado
é vantagem o imaginário roubado pelo pecado
orgias 
ofnis e finéias
comentários limitados pra não ter a preocupação de argumentar tanto co'esse corpo que eu 
nem sempre tenho cuidado.

tem a manhã de hoje 
a tarde de ontem tão real
vívida 
vivo tudo em lembrança 
até as que ainda não veio

é música que faz vibrar meu peito
um emaranhado de sons e notas a carregar meu desejo pra dentro do mais sagrado segredo em mim.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 sua pele fina

nos meus dedo grosso

arranhando sua sensibilidade

com meu jeito estranhao

mas você vem e me diz que é agora 

é agora a esperança

é agora a lembrança

é agora qualquer coisa que se pareça com o eterno

profano e santo tudo sendo a mesma coisa

me expande quando eu te entro

me abre quando você me toca

nos eleva 

feito duas pássaras no céu

passando leve na vida e gozando

o vento das marés, 

a chama do fogão


quinta-feira, 2 de abril de 2020

acabei de tocar
e isso me revifica de um jeito que eu nem sei dizer
a energia fica pairando no meu corpo
como se a mim só restasse a entrega total das minhas loucuras
pra me descobrir

santo antônio
santa maria
todas as santas e santos
separados pra viver aquele caminho
tão estreito que só cabe eu.
não tem ninguém parecido comigo
ninguém pra quem eu possa olhar e dizer: sou eu

eu tenho um quadro da cassia eller pendurado na minha parede
mas eu sei o quanto sou diferente dela
eu tinha era medo quando era criança
parecia um estigma
aff! que medo eu tinha!
medo daquela imagem
cachoeira jorrando
e eu contida
deixei estourar paredes
muros estocando água parada
pra garantir energia
arrebenta parede e carne
e acho que nisso a gente (eu a cassia)
se parece
e a casca caindo de dentro pra fora
parece um ritual de passagem
enquanto a energia clamar
eu vou aprendendo um jeito novo de viver
nesse novo céu e nova terra.

segunda-feira, 23 de março de 2020

é dificil! 
é difícil eu sei! 
eu passei o antes da minha vida toda fugindo
fugi da minha mais ousada aventura...
mas hoje eu sei: fui mais corajosa do que ele

depois que eu saí dessas paredes 
(e as paredes não são fixas, elas são internas e se movem em mim)
depois que eu saí dessas paredes
um grão de mostarda
e tudo cresce!
um vírus menor ainda
e tudo muda!
uma muda de planta em outro lugar
uma muda de roupa
umas dúzias de coisas 
q eu não posso mais fazer
nem abraço, nem beijo, nem toque
que saudade dá da gente
em qualquer rua
em qualquer praça
em qualquer parada 
se pegando, se amando!
o vento muda tão rápido de direção
e vc já me disse que
às vezez confusão, turbilhão, ventania
epahey quando me guia!
e a bixa às vezes é escandalosa!
tão espontânea
tão espada e fogo
tão ela, vívida
me ensinando
que brisa também pode ser tempestade

não tem a ver com dizer as palavras certas
tem a ver com me ter
com ser eu assim:
sempre mais, sempre menos
em movimento!

e hoje sei: fui mais corajosa que ele! 
essa minha vontade de soltar a voz
pronto! soltei! 
e agora to eu aqui sozinha
no meio das rodovia
contando césares alquimistas
sendo salva pelo luis das balinha

caio tropeço corpo todo no chão
meu grão, minhas contadas migalhas
ponta à ponte 
rosea céu maduro do verão
roseia a tarde fina
do dia em que a lisura
desceu lisa escorregadia pela garganta
que nem meus dedos em você
pétala riso fulgor 
rosa e vaga a esperança
porque é agora que se vive

calma!!!
é com calma que se vive
é com calma que se sente
a seiva subindo até a pinta da folha
e pinga
pingo eu!

tranquila
sossega
sopra o ar inspira prende solta 
trás a esperança de volta

esperançando o viver agora! 
sem paredes que me prendam
sem parentes que me meçam
sem parenteses de explicação
sem medo da exibição
sem feito pro dedão
sem remédio pra raiva
sem trégua pro cara da faca
sem redução do cachê
sem negócio falho
sem testemunho falso
sem dívida 
sem dúvida
sem culpa
sem censura

sem ser certa
sem mei mundo de gente pra me aturar
sem altura
sem sacrifício
sem você!

é assim que eu qro me ter
é assim que eu qro me ser

desse jeito!

não me ameace!
não me persiga! não me aprove! 
não me maltrate!
não me prove! não me meça por suas medidas! não insista! 

não me segura! não me empurra
não me manda calar! 
não tenta me obrigar a nada! 
não me bate!
porque uma hora eu grito!

ah... uma hora eu grito! 

escrita do meu 8M

eu num 8 de março e só!
só porque ando descobrindo q solidão
também vem com autonomia
que solidão às vezes é o unico jeito de sobreviver nesse mundo sendo eu
nem mulher, nem bandeira, nem de ninguem
um corpo q no meio da multidão
até parece fragil
parece pequeno
parece inseguro
parece q precisa de defesa
mas quem sabe de mim? 
as vezes nem eu!
não me coloque apenas num bolo
num côro, num rotulo
nem é um dia que me define

se não pode me aceitar assim como sou
não me aceita de jeito nenhum
eu não vou me encaixar
nem fazer nada pra você ficar melhor
com a minha presença
não tem q ficar falando baixinho com os outros
pra saber como é que me chama
se virei homem, se ainda sou mulher
eu só queria que você olhasse no fundo dos meus olhos e me visse
queria que você
tentasse perceber que eu sou bem mais
que uma saia, que uma gravata
nunca me sentia feminina 
quando vinham as definições
e nunca quis ser 
o macho que machuca pra ser macho
e pra ser sincera
eu me olhei mais dentro
foi pelo olhos da minha gata
que só mostrava as unhas afiadas 
quando queria
parecia mais comigo
do que qualquer homem ou mulher

continuo me achando esquisita
deshumana despida de gênero
porque pra saber gênero dos não humanos
a gnt se entorta, se esforça pra ver ovos, peitos
e às vezes a gente nem liga
tipo a xanaia e a nina
que a gnt co'essa mania de generoralizar
foi lá e disse: é menina
mas não eram. eram gatas machos
e que mais uma vez nos ensinaram

por que é tão importante o gênero
pra você me respeitar?
por que é tão importante o remo
se o vento pode nos guiar?

ontem, no dia internacional na mulher
não fui a nenhuma marcha
e não fiz nada pra gritar nossas mortes
não sou uma mulher dos números
e não decoro estatísticas, mas nem precisa

porque pra mim é definição de gênero q mata
acho que eu não sou tão feminista
o quanto queria
porque se o meu corpo, meu som, meu tempo de fala não pode ser respeitado 
pra quê sororidade?
alguém pode me explicar essa palavra?

eu sempre gostei das marchas
elas me inspiram ao grito
mas poxa! quando a gente abriu a janela
e gritou, o que mais doeu foi gênero achar que a gnt ta vendo fatima bernardes demais

gênero me mata
não sou a mulherzinha que você queria
não sou nem a que eu fingia
eu só queria poder isso:
saia e gravata, batom e calção
e que isso fosse tranquilo
que isso fosse respeitado 

mas nesse 8 de março
eu aqui, deitada na minha rede só
tentando eu mesma dar liberdade pra esse corpo todo machucado 
e é sério!
tanto envolvimento tanto texto tanta teoria
tanta palavra bonita
e eu aqui só! tentando entender
que não é homem nem dever
não é genero que me define
e pela primeira vez me sinto menos impostora
só eu sendo tão eu pra definições
grilhões se arrebentando, um a um
não quero elo, não quero consolo

nem explicação.